Deficiência visual e dança: “Nos palcos, sinto que posso voar”

Aos 46 anos, Gisele Camillo realiza um sonho que parecia distante: ser bailarina. Diagnosticada com baixa visão ainda na infância, ela enfrentou inúmeras barreiras para seguir na dança. “Tentei dançar quando criança, mas tinha que fingir que enxergava. Se eu falasse, ninguém me aceitava. Então, ficava perto do professor e seguia como dava”, lembra.

Aos 38 anos, um quadro de glaucoma fez com que ela perdesse quase toda a visão. Hoje, enxerga apenas vultos e formas — mas, segundo Gisele, isso já não importa quando está no palco.

“Quando estou com as meninas dançando, nem lembro da visão. A gente se ajuda muito. Aprendemos a lidar com a falta da visão no palco. Hoje, não faz diferença. Quando danço, me sinto livre, como se pudesse voar.”

Enquanto dança, o cão-guia Faísca, um labrador caramelo, espera pacientemente ao lado. Companheiro recente, ele trouxe ainda mais independência e segurança para a bailarina. “É um parceirão. Cão-guia é liberdade. É você sair voando”, conta.

A Cia de Ballet de Cegos

Gisele faz parte da Cia de Ballet de Cegos, criada em 1995 pela bailarina Fernanda Bianchini, responsável por desenvolver o primeiro método de ensino de balé clássico para pessoas com deficiência visual. Hoje, a companhia reúne cerca de 200 alunos — 60% deles com algum tipo de deficiência visual.

O impacto vai muito além da técnica. Cada apresentação é uma mensagem poderosa de inclusão, talento e superação. “Sempre ouvimos muitos nãos. Mas, quando o público aplaude, é como ouvir: ‘Sim, você é capaz. Sim, você pode’”, destaca Gisele.

A companhia já se apresentou ao lado de grandes nomes, como Stevie Wonder e o lendário coreógrafo Mikhail Baryshnikov, mostrando ao mundo que a dança não enxerga barreiras.

Durante o 69º Congresso Brasileiro de Oftalmologia, em Curitiba, o grupo emocionou o público ao levar ao palco duas coreografias. Para a gerente da Associação Fernanda Bianchini, Damaris Ferreira, a mensagem é clara: “A pessoa com deficiência pode sim estar onde quiser. Não há limites”.


📖 Fonte: Agência Brasil – Reportagem de Paula Laboissière, 31/08/2025

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